26/08/2015

Ir embora também enche o saco

Quando eu ficava de saco cheio e ia embora, sempre foi assim .... penso que se eu não fui ainda é
porque ainda tem espaço no saco para mais chateações, mais experiências e mais lições.... ou a balança ainda está equilibrada. E eu não me iludo, sou sempre bem consciente do que desejo, do que planto e do que colho. As vezes a colheita não me agrada, embora eu saiba exatamente o que plantei.
Só pra constar, eu não estou nenhum pouco afim de ir embora. Todas as vezes que eu quis fazer isso eu fiz. Aos 4 anos de idade quando eu quis uma melancia e minha mãe não tinha em casa, eu aproveitei um descuido e um portão aberto, caminhei pelo menos 3 quarteirões em busca da tão sonhada fruta, até que um conhecido (anjo) me reconheceu e me levou de volta. Ganhei uma surra e uma melancia.
Depois eu quis ser da cidade grande, Dourados City era muito sem emoção pra mim, Determinei ao Universo que queria mesmo era morar em Curitiba, paguei um preço alto por ter determinado/desejado isso, e outras pessoas acabaram pagando as parcelas comigo, não que isso tenha sido negativo, Curitiba realmente nos transformou, saímos da zona de conforto que é morar no interior do interior.
Quando eu aprendi a ganhar os meus tostões e descobri o cominho da rodoviária, consequentemente eu comecei a ter consciência do real significado de "ir embora" quando o saco enche. Fui embora de Curitiba porque querer ser tecnóloga, iluminadora cênica e mochileira ao mesmo tempo não tava dando muito certo. No Cefet eu passava mais tempo dentro do teatro do que da sala de aula... e quando eu não estava no teatro, eu estava na estrada, sempre com a mochila nas costas, sempre descobrindo um lugar novo... as vezes ia passar o fim de semana em Santa Catarina e na volta eu passava direto e ia parar em São Paulo. Isso ia enchendo o saco das pessoas lá de casa e elas enchiam o meu saco, conclusão..."she´s leaving home" .. dando um passo pra fora, como na música dos Beatles, me senti livre Fui parar em Manaus e quando eu enchi o saco de ficar em Manaus eu fui parar em São Paulo e quando eu enchi o saco de São Paulo e o meu coração de amor eu vim parar em Recife.
E onde entra o amor nessa história? Meus amores sempre foram efêmeros, Por isso, ir embora nunca foi problema. O problema foi que um dia eu desejei um amor maior, senti que estava na hora de cuidar de alguém e deixar alguém cuidar de mim, mais uma vez determinei e o Universo prontamente me atendeu. Lembro como se fosse hoje do comentário que o meu meu irmão fez quando minha mãe deu a notícia de que eu estava "com alguém": mãe, ela está com alguém até ela sentir vontade de ir embora e esse alguém não quiser acompanha-la. Mas você quis! Você queria o mesmo que eu, nós queríamos as mesmas coisas, estávamos fugindo das mesmas coisas e desejávamos viver as mesmas coisas (belas praias e cachoeiras, conforme prometemos um para o outro... com lindas noites de Lua cheia).

E agora? Agora eu me recuso a ir embora. Eu fui embora muitas vezes e acredito que algumas foi por pura covardia, medo de viver um grande amor, de ter um grande emprego, de ser uma iluminadora famosa (quase fui mesmo). Medo de me estrepar. Eu disse muitos nãos para mim e para pessoas que me amavam e agora eu to de saco cheio de ir embora.
Desde março eu soube que 2015 seria um ano de mudanças, decepções e muito aprendizado, sobretudo tinha consciência de que eu estava fazendo algo errado e que "ir embora" desta vez não seria uma solução plausível. Então pela primeira vez na vida resolvi fazer diferente, eu deixei a porta aberta para que aqueles que quisessem ir embora no meu lugar, se sentissem livres pra fazer isso. Hoje vivemos nessa paradoxal liberdade que nos prende.
Estamos nos sacaneando? Não! Não sei, talvez... Não quero saber, pois estou bastante satisfeita com o presente, deletei as decepções do passado e o futuro, humm, o futuro vai lindo, seja qual for, aconteça o que acontecer, tenho certeza disso.